O
Brasil pela Metade
A obra de Pedro Américo,
retratando Dom Pedro I no Grito do Ipiranga no dia 7 de Setembro de 1822,
possivelmente poderia ser o retrato oficial do Brasil pela Metade.
Um príncipe português proclama
a Independência do Brasil e, posteriormente, retorna à Europa para assumir o
trono de Portugal. Só no Brasil poderíamos achar tudo isso normal.
No final do século XIX, quando
meus ancestrais paternos chegaram da Itália e se estabeleceram como colonos no
interior do Estado de São Paulo, eles perceberam realmente que o Brasil é um
país pela metade. Posteriormente, meu avô paterno italiano também entendeu
perfeitamente que tudo no Brasil é pela metade, quando teve que defender a
honra da família e ratificar a propriedade dos quarenta alqueires do meu bisavô,
anteriormente já registrados em cartório. Como o seguro morreu de velho, meu
avô paterno italiano precisou aportuguesar seu nome para garantir a existência
de sua prole. Provavelmente, escrevo estas linhas em 2020 graças aos nobres
atos de meu avô italiano.
A Proclamação da República
foi feita por um monarquista, as capitanias hereditárias se transformaram em
estados democráticos de fachada e, pasmem, a escravidão foi extinta por
monarquistas escravocratas. Mas, como no Brasil todas as coisas são feitas pela
metade, tudo virou normal.
Aliás, meu pai sempre diz
que as pessoas no Brasil fazem tudo pela metade. Deve ser mais uma frase
herdada dos meus ancestrais italianos, quando entenderam que no Brasil as coisas
são bem extravagantes.
Depois de 520 anos, começo a
perceber que o Brasil é um país que poderia sofrer ou se regozijar por ser um
país pela metade. Nossa Constituição dá poderes imperiais aos Três Poderes da
República. Mas, em contrapartida, podemos utilizar o direito subjetivo para
mudar tudo, o tempo todo.
Talvez, se o Brasil
utilizasse o direito romano, tudo seria muito melhor ou infinitamente pior.
Mas, provavelmente nós nunca saberemos de fato e, esta será mais uma das tantas
dúvidas eternas brasileiras. Será que deveríamos ter sido colonizados por
chineses, ingleses, franceses ou holandeses? São dúvidas que sempre reaparecem,
como a restauração da monarquia ou a volta da ditadura, entre outras tantas.
Mas, o fato de sermos um
país ainda em construção, uma mistura de Bélgica e Índia como disse o Professor
Edmar Bacha, talvez coloque o Brasil em situação privilegiada no Novo Normal
que se avizinha.
Claro que tudo dependerá de
diversos fatores internos e externos. Mas, acredito piamente que nós
brasileiros temos vantagens internas enormes e pequenas desvantagens externas
para darmos o tal falado salto quântico. Chegou a hora de o Brasil assumir a
posição de quinta economia mundial.
Depois de tanto tempo sendo
chamado de quinto dos infernos, o Brasil poderá se transformar na quinta economia
mundial. Uma grande ironia.
Com oitocentos e cinquenta
milhões de hectares de área total, quase quinhentos milhões de hectares de
Florestas Nativas, a maior Biodiversidade do Planeta Terra, as maiores Bacias
Hidrográficas do mundo, uma Agricultura moderna, um sistema de telecomunicações
de primeiro mundo, um parque tecnológico de invejar qualquer um e uma população
heterogênea e empreendedora, o Brasil possui todos os requisitos para se tornar
a potência do século XXI.
Compreendo perfeitamente que
o Brasil não receberá o título de quinta economia mundial somente por suas
virtudes e méritos, mas será inevitável que isto aconteça até o ano de 2025.
Acreditem se quiserem...
Carlos Aranha
Araçatuba, 26 de maio de
2020.
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